foto de Spencer Tunick

sábado, 10 de setembro de 2011

Meu sangue te sugou

I
Tua língua me pediu para ficar.

II
Mandei uma mensagem dessas que toca o celular e vibra a alma e tu me respondeu dentro dos próximos cinco minutos – o tempo suficiente e necessário para manter equilibrada a ansiedade – e como que se me quisesse, e me querendo e eu te querendo, saímos à tardinha, na sombra das ruas underground, pr’um filme qualquer, pr’um motivo qualquer que te colocasse ao meu lado (confesso, agora, que precisei de tu pra esquecer o presente desgostoso do presente). Os curtas acabaram. Tu, ao final, me perguntou o que achei, qual preferi, e eu não sabendo ao certo disse que achei tudo estranho, que não gostei. Tu concordou e tudo treslucidou. Aí eu te queria mais tempo por perto e convidei pr’uma cerveja despretensiosa, pr’uma companhia que me alegra a vida e só. Vai que tu quisesse ficar mais? vai que a gente jantasse juntos como há muito não havia? vai que o tempo pudesse brigar com a lógica e andar em passos lentos? O acontecido foi que conversamos sem o tempo futuro incomodar, sem o dia seguinte chacoalhar a razão batendo incessante à porta, sem querer sair de perto um do outro; ou eu de tu. [juro, Papel, não mentirei a você! minha sinceridade será tatuada a sangue em teu branco.] Quis perpetuar o instante de dois e minhas tentativas restaram frutíferas. Tu me falou das tuas verdades, das tuas tristezas, e de tudo o que se conversa em uma mesa de bar durante cinco horas, banhadas do assunto que nunca conversamos, da conversa que nunca tivemos. Eu te falei o que quis te falar naqueles versos, nem lembro, ou lembro e isso me é desimportante. O clímax foi quando dissertamos sobre o que faríamos depois & o depois se transfigurou no agora, saindo, eu e tu, pr’uma boate que serviu de bar, de carinho e de qualquer coisa que signifique nossas pernas se roçando, nossas mãos se tocando e minha boca te sentindo a língua. Claro que o que se procedeu foi mais, não tenho dúvidas, mas não pra mim, e sim pra tu, já que foi tu quem disse que tua amiga falou que combinávamos, foi tu quem disse que teu namorado imaginava que você me experimentaria, e foi tu quem me quis na tua casa, mesmo eu propondo, sem representar minha vontade, que eu fosse embora, naquela caminhada antes e depois do metrô. Eis que entrei na tua morada, vi as cinzas da cachorra no pote defronte à porta, sentei no sofá ao teu lado, e tu propôs, envergonhada, que subíssemos pro quarto já que a janela da sala, às cinco da manhã, nos propagandeava. A gente tirou a roupa, tu me massageou como nunca, eu fingi uma sabedoria inútil, e pelos pêlos a gente dormiu abraçados. No dia seguinte tu me chupou. (Confesso, também, que tua boca me fez sentir mais vivo.) Mas a tua empregada me apressava como se alguma realidade precisasse existir. Fui embora em tchau fugaz. À tarde, mandei uma mensagem sem minh’alma vibrar e tu respondeu bem. É que aí acreditei no amor. Só que o cimento da cidade de São Paulo me afastou de tu, o cimento da cidade que transforma tua vontade em repressão me afastou de tu, e, mesmo com o tempero de árvore na Pôr-do-Sol, esse cimento todo me afastou de tu. Como se tu quisesse te conhecer, tu fechou teus olhos.

III
Fechar os olhos não apaga o fora.

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