foto de Spencer Tunick

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

vinte e nove de novembro de dois mil e dez

desisti de viver de solidão
pensando em você, em você
e nesse teu nome
cheio de figurações
no mundo das letras

– dos dom casmurro’s aos bíblicos papas
teu nome já saiu da minha cabeça
& só tua gasta fotografia gasta minhas horas.

sábado, 27 de novembro de 2010

(sem título)

eu vou te contar
que você não me conhece
eu tenho que gritar isso
porque você tá surdo
& não me ouve

a sedução me escraviza
a você
ao fim de tudo
você permanece comigo
mas preso ao que eu criei
e não à mim
e quanto mais falo
sobre a verdade inteira
um abismo maior nos separa

você não tem um nome
eu tenho
você é um rosto na multidão
eu sou o centro das atenções
mas a mentira da aparência
do que eu sou
e a mentira da aparência do que você é
porque eu não sou o meu nome
e você não é ninguém

o jogo perigoso que eu pratico aqui
ele busca chegar ao limite possível
de aproximação
através da aceitação da distância
e do reconhecimento dela

entre eu e você existe a notícia
que nos separa
e eu quero que você me veja
nu
eu me dispo da notícia
e a minha nudez, parada
te denuncia
e te espelha

eu me delato
tu me relatas
eu nos acuso
e confesso por nós
assim me livro das palavras
com as quais você me veste.

(texto de Fauzi Arap declamado por Maria Bethânia antes da música 'Um jeito estúpido de te amar' do disco 'Pássaro da Manhã', disposto em forma de poesia pelo meu ouvido)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Declaração

"Quantas vezes lhe declarei o meu amor?
Declarei-o verbalmente inúmeras vezes
e o declaram todos os meus gestos tendentes
a você: a minha língua, a brincar com o som
do seu nome, Marcelo, o declara; e o declaram
os meus olhos felizes quando o vêem chegar
feito um presente e de repente elucidar
a casa inteira que, conquanto iluminada,
permanecia opaca sem você; e quando,
tendo apagado todas as lâmpadas, juntos,
no terraço, nos consignamos aos traslados
dos círculos do relógio do céu noturno
ou aos rios de nuvens em que nos miramos
e nos perderemos, declaro-o no escuro."

(in A cidade e os livros, de Antonio Cicero)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fotografia de poesia

De um lado, um gato observando o movimento das ruas sobre o muro opaco d’uma casa. Do outro lado, uma velha tragando a fumaça de vida atrás das grades d’um condomínio. No hiato, um morador de rua (“indigente” para algumas gentes) andando feliz com sua capa de pano rasgado vermelha.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

(sem título)

época de dama
da noite é aquela
que se anda na noite