foto de Spencer Tunick

terça-feira, 26 de junho de 2012

Noturno em hai-kai


o plexo da memória é o esquecimento
a carne da saudade é o cheiro
a roupa que me cobre é teu pelo

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poesia envergonhada (ou O ser & estar da tristeza)


Hoje é tempo de comer mixirica
(Ou eu quero esse tempo de volta
Por isso escrevo)

Sentar no chão da sala
Quebrar a casca laranja
E ficar um minuto arrancando a pele
De cada gomo, o caroço
Pra só depois comer
Uma mixirica (15 minutos)

(Você e o seu cheiro
Que eu não lembro
Os dois) E esta mixirica

Minha mão suja a unha
Limpo na camiseta rasgada
É o último gomo
De que forma aproveitá-lo melhor?
Ao escrever, vou tirando os fios
Brancos que embaçam o laranja de dentro
Consigo ver um caroço ali
Não sei se como de uma vez
Ou se tiro o caroço primeiro
Opto por expurgá-lo
E então já acabou a fruta

(Mas essa demora toda me angustia.)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Meditação sobre a distância

brega é a palavra
que a boca come
e o olho cospe
.
.
.
se a palavra lágrima não existisse
(e a lágrima só existe porque existe
a palavra) a lágrima seria o cadáver
do amor