foto de Spencer Tunick

sábado, 12 de abril de 2014

(sem título)

corpo de pedra
muros do plexo
artérias, veias, pelos
a epiderme e a lonjura
do corpo do outro

corpo de água
vermelho-sangue
derrete o vão
e o espaço do interior
e o seu murar

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Labirinto de você

1
ele matou minha vontade

2
ele preencheu de vazio
o meu espaço

3
ele fez esperar
o nada
em silêncio

4
ele doido me fez doído
porque eu não via nem
imaginava
angustiava

5
o tempo
quem
cadê
esse des
graçado

domingo, 22 de setembro de 2013

Samba de lamento


Lamento, meu amor
O meu lamento
Ser desse tamanho
Que ocupa o teu espaço

.

Eu vivo a espera
De um grande amor
Aquilo que não se escreve
Tudo aquilo que se inscreve
(des-esperar)
Cumpridos sonhos
De estar e ser
As palavras que riscamos
P'ra apagar a vergonha
E esconder o medo
No mais pro-fundo
D'alma: essa pele
Que sente e dança

2


Eu, sentada no tronco
Ele chupando sorvete
O bigode, sujo
A bermuda, de terra

(corpo de água
corpo de terra)

O tempo de agora

Fecundo o que há
De ser semente

sábado, 17 de agosto de 2013

Exercícios para-si


corpo de água
dor-maremoto
dentro, parte
que sai
beira-mar
e volta
corpo de areia

domingo, 11 de agosto de 2013

Fragmentos

(I)
Muros longínquos 
Na polidora esgarçada dos sonhos. 
Tão altos. Fulgindo iluminuras. 
Muros de como te amei: Brindisi. 
Altamura 
E muros de chegança. De querença. 
Aquecidos. Anchos. 
O tenro entrelaçado à tua fala: 
Teu muro de criança.

(II) 
Muros dilatados de doçura: 
Romãs. Dálias purpúreas. 
Irmãos adultos 
Recostados na manhã de chuvas. 
Muros do encantado da luxúria. 
Fendas. Nesgas de maciez.

(III) 
Muros prisioneiros de seu próprio murar. 
Campos de morte. Muros de medo. 
Muros silvestres, de ramagens e ninhos: 
Os meus muros da infância. Esfacelados. 
Muros de água. Escuros. Tua palavra: 
Um mosaico de vidro sobre o teu rosto altivo. 
Devo me permitir te repensar?

(IV) 
Muros intensos 
E outros vazios, como furos. 
Muros enfermos 
E outros de luto 
Como o todo em mim 
Na tarde encarcerada 
Repensando muros. 
A alma separada de ti 
Vai conquistar a chaga de saltar.

(V) 
Muros agudos 
Iguais à fome de certos pássaros 
Descendo das alturas. 
Muros loucos, desabados: 
Poetas da Utopia e da Quimera. 
Muro máscara disfarçado de heras. 
Muros acetinados iguais a frutos. 
Muros devassos vomitando palavras. 
Muros taciturnos. Severos. 
Como os lúcidos pensadores 
De um sonhado mundo.

(VI) 
Muros castos e tristes 
Cativos de si mesmos 
Como criaturas que envelhecem 
Sem conhecer a boca 
De homem e mulheres. 
Muros escuros, tímidos: 
Escorpiões de seda 
No acanhado da pedra. 
Há alturas soberbas 
Danosas, se tocadas. 
Como a tua própria boca, amor, 
Quando me toca.

(VII) 
Muros cendrados. 
De estio. De equívoca clausura. 
Lá dentro um fluxo voraz 
De sentimentos, um tecido 
De escamas. Sangue escuro. 
Lá. Depois do muro. 
Criança me debrucei 
Sobre a tua cinzenta solidez. 
E até hoje me queima
A carne da cintura.


(in Rútilo nada, páginas 100-103, de Hilda Hilst)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Exercícios #4


se (chá) mate matasse
chet baker doesse

leve (vai) o que fosse
p(h)oder

br(e)(u)no
v(é)(ó)rtice

feito
de(s)feito

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Hai-kai da letra


o luxo é o lixo
com u
francês

sábado, 13 de abril de 2013

Canto segundo


Teu corpo de terra
Preenche meu mato
Vão e espaço

Teu corpo de ar
Marca o meu
De vento

sexta-feira, 8 de março de 2013

Canto primeiro


Meu corpo
É a fronteira do meu corpo
No ar

Meu corpo
É a sensibilidade do meu pelo
E o ar

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Esboço lírico sobre experiências metafísico-obscenas


I
Poemas-sujos são como
Os olhos, se não excitam
A gente só pelo enxergar,
Temos vergonha e des-
Encaramos

II
Poemas-sujos são como
O tato, que a gente quer
Saber o que tem dentro
Apenas pela superfície

III
Poemas-sujos são como
Os cheiros que sentimos
De longe, às vezes nos
Brocham, noutras o gozo
Escapa

IV
Poemas-sujos são como
O gosto da porra que fica
Na língua e aflige a moça
Que tem nojo do que vê

V
Poemas-sujos gemem

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sobre o silêncio


I
O teu pelo pela pele
Minha eu pego
Eu sinto

II
Saudade, carência, a vontade
Esse incômodo, esse estar
Inquieto e ser todo um buraco
Uma falta, o vazio como coisa
Concreta que fosse

III
Vejo o teu retrato
E carrego em mim
Desconforto no contato
Co’a lembrança
Movimento cerebral de esquecer

IV
Ser-tempo & estar-espaço
No sonho do que é o silêncio
Eu-para-mim

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ansiedade


ânsia.idade

I
o futuro é um depois
que nunca está

II
incerteza do conhecer
brinca co’a barriga

III
pensamento-vontade
em palavras e frases
que demonstrem
o quanto balanço
esta caneta

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

06.11.2012


anteontem, sonhei tua morte
sensação que continua no ainda
pesada
mantida
doída & doida
como quando tu foste
e eu sonhando
metodicamente
todos os dias de alguns meses
as noites todas
algumas manhãs também
e, agora
que falta pouco pra tua volta
regresso
me sinto mais calmo
(será que finjo tranquilidade?)
preparado para o nada
que é o que tenho
– e de como o nada é diferente da morte.