“(I)
Muros longínquos
Na polidora esgarçada dos sonhos.
Tão altos. Fulgindo iluminuras.
Muros de como te amei: Brindisi.
Altamura
E muros de chegança. De querença.
Aquecidos. Anchos.
O tenro entrelaçado à tua fala:
Teu muro de criança.
(II)
Muros dilatados de doçura:
Romãs. Dálias purpúreas.
Irmãos adultos
Recostados na manhã de chuvas.
Muros do encantado da luxúria.
Fendas. Nesgas de maciez.
(III)
Muros prisioneiros de seu próprio murar.
Campos de morte. Muros de medo.
Muros silvestres, de ramagens e ninhos:
Os meus muros da infância. Esfacelados.
Muros de água. Escuros. Tua palavra:
Um mosaico de vidro sobre o teu rosto altivo.
Devo me permitir te repensar?
(IV)
Muros intensos
E outros vazios, como furos.
Muros enfermos
E outros de luto
Como o todo em mim
Na tarde encarcerada
Repensando muros.
A alma separada de ti
Vai conquistar a chaga de saltar.
(V)
Muros agudos
Iguais à fome de certos pássaros
Descendo das alturas.
Muros loucos, desabados:
Poetas da Utopia e da Quimera.
Muro máscara disfarçado de heras.
Muros acetinados iguais a frutos.
Muros devassos vomitando palavras.
Muros taciturnos. Severos.
Como os lúcidos pensadores
De um sonhado mundo.
(VI)
Muros castos e tristes
Cativos de si mesmos
Como criaturas que envelhecem
Sem conhecer a boca
De homem e mulheres.
Muros escuros, tímidos:
Escorpiões de seda
No acanhado da pedra.
Há alturas soberbas
Danosas, se tocadas.
Como a tua própria boca, amor,
Quando me toca.
(VII)
Muros cendrados.
De estio. De equívoca clausura.
Lá dentro um fluxo voraz
De sentimentos, um tecido
De escamas. Sangue escuro.
Lá. Depois do muro.
Criança me debrucei
Sobre a tua cinzenta solidez.
E até hoje me queima
A carne da cintura.”
A carne da cintura.”
(in Rútilo nada, páginas 100-103, de Hilda Hilst)
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