foto de Spencer Tunick

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Da boca do plexo da aorta

qualquer palavra que diga
que ame, escrita, pintada
gritada, pichada, escarrada
do sangue que não te cobre
mas te permeia o meandro
que te envergonhas a face

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A falta que me demove

A minha dor não tem nome
ou tem e não quero dizê-lo
por preguiça ou desdém de
quem não sabe o que quer
eu vou e apago teu nome
da boca que não diz o senti-
mento que não sente, não
mente, não minto a mim
porque a mim não me foi
dado desdizer o que sinto.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Rascunho de um começo

Ato I
Quando do sexo se tatuam disparidades ridículas, quando do amor se machucam verbos de pudor, e quando da diferença se juram profetas e poetas indignados, quiçá embriagados, a essência de uma semelhança se faz dessemelhante, contraditória. E uma contradição vaidosa, puramente marola, porquanto existe um mar todo atrás: uma árvore tapando a visão da floresta. E uma contradição grotesca, das que não merecem ser consideradas e são.
Ah, o real errado! quanto dói por dentro e corrói este choque desnecessário, esta presença frustrante, mas que não está senão enraizado. É a dor irrazoável que percorre o mundo da desistência de tão forte e persistente. E tão profunda.
E das profundezas de um pensamento também irrazoável, brotam esperanças e é como se todas não passassem de um sonho. Porém, como tal, podem ser desenhadas, podem ser recontadas, recortadas, arrumadas, e até reinventadas. Tudo depende de um ponto de fuga e da própria fuga – mesmo que momentânea, mesmo que privada do sucesso.

Ato II
Da privada que agora jaziam cocôs, uma criança, não se sabe ao certo a que sexo pertencia, saía saltitando feliz, como se tal necessidade não fosse expelida de seu corpo há tempos. Era como se o costumeiro deixasse de assim o ser e passasse para uma nova classificação, daquelas que representam difícil acesso, daquelas que requerem prova antes da eficácia. Enfim, a criança saltitava feliz.
Como cocôs e xixis são iguais! O sexo não faz diferença com a consistência deles. A idade também não. Por vezes, sequer a espécie a faz, considerando que o cocô de um humano e de um cachorro é deveras parecido, senão igual. Diga-se de passagem, possuem até o mesmo odor. Fedor.

Ato III
O que é o sexo senão vontade de trepar?