foto de Spencer Tunick

terça-feira, 1 de março de 2011

ca(u)sos

São duas horas e vinte e nove minutos dessa tarde adjetivada, fui dormir perto das duas da manhã, acordei às seis e quarenta da madrugada p’ra ir estudar, e agora o sono resolveu fatigar minhas pálpebras. Cê ‘tá no meio do trabalho, Flaixer, não sonhe dormir! P’ra evitar maiores sonolências, abro o caderno e rascunho estas palavras que você está lendo.
Venho todas as tardes de segunda a sexta-feira p’ra este hospício de pessoas engravatadas, pra ocupar quatro horas da minha não financiada vida boêmia p’ra conhecer a face pública do direito, ou, p’ra ficar sentado dentro de uma sala com pé direito alto – creio ter mais de três metros – na frente de uma máquina tecnológica chamada computador que não me fornece senão um dicionário Aurélio do século XXI, dicionário apelidado de tarefa diária, porque fico descobrindo novas palavras velhas; não, não serei injusto (poderia?), exercito minha anti-monotonia com um jogo de cartas virtuais denominado, pelos próprios criadores do jogo, “paciência”. O mestre doutor excelentíssimo magistrado senta ao meu lado, chega todo dia pontualmente por volta de uma hora e quarenta minutos da tarde, abrindo o portal desta sala com uma força musculosa, quero dizer, digna de vários supinos, momento este que é procedido por um instante fugaz de cerca de dois segundos em que o meritíssimo observa academicamente a atmosfera da sala (talvez esteja conferindo quem está presente e se o ar condicionado ‘tá numa temperatura agradável, talvez). O escrivão é uma figura típica, parece com várias personalidades, gordinho e com uma voz estrondosa, senta ao lado do senhor data venia com “d” e “v” maiúsculos, e sempre trás um minicafé com as devidas justificativas de que “tá quentinho!, acabou de ficar pronto”, p’ra não aparentar bajulador. Toda quarta-feira é dia de audiência: o corredor na frente da sala santificada parece metrô da Sé às seis da tarde. O segredo de justiça, aliás, me impede de contar sobre os casos & causos arquitetonicamente peticionados e persuasivamente acordados. No mais, nunca se esqueça de bater no portal três vezes – no máximo – antes de entrar, esperar o escrivão abrir ou liberar a entrada já que você ousado abriu cauteloso cerca de trinta centímetros, e se referir ao juiz com todos os prenomes cordiais.

Um comentário:

  1. hahaha! to no meio da minha aula pratica de história do direito portugues e leio isso e começo a sorrir durante a leitura, pareço um parvo a frente do computador. Me diverti. Obrigado por me fazer parecer parvo.

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