foto de Spencer Tunick

domingo, 1 de maio de 2011

Je ne suis pas prisonnier de ma raison

“(...) Não me creio indo para um casamento com Jesus Cristo por sogro.
Não sou prisioneiro da minha razão. Disse: Deus. Quero a liberdade na salvação: como obtê-la? Os gostos frívolos me deixaram. Não é mais necessária a devoção nem o amor divino. Não sinto falta da moda dos corações sensíveis. Cada um tem sua razão, desprezo e caridade: mantenho o lugar no topo dessa angélica escada de bom senso.
(...) Deveria ter meu inferno pela cólera, meu inferno pelo orgulho - e o inferno da carícia; um concerto de infernos.
Morro de lassidão. É a tumba, vou para os vermes, horror dos horrores! Satã, farsante, queres me diluir com teus feitiços. Me queixo. Me queixo! Um golpe do tridente, uma gota de fogo.
Ah! voltar à vida! Lançar os olhos sobre nossas deformidades. E este veneno, este beijo mil vezes maldito! Minha fraqueza, a crueldade do mundo! Meu Deus, piedade, esconde-me, me aguento mal! - Estou oculto e não estou.
É o fogo que cresce, com seu condenado”.

(in Uma temporada no inferno, página 37 e 47, de Arthur Rimbaud)

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