foto de Spencer Tunick

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A filosofia física

Os dois estão sentados, no mesmo espaço, na canga que é a grama daquela praça.
– Na vida real – sentida, doída, vivida, humana afinal – não há espaço pro presente. O presente, enquanto tempo, é uma teoria gramatical. Invade a filosofia, a psicologia, é claro, mas é, sobretudo, gramatical, porque é sobre lá que incide o ponto de partida pra se elaborar pensamentos. Na vida real, o presente ou é passado ou é futuro. Já te explico. Isto, porque você pensa o presente, você planeja o presente, então ele tem caráter de futuro; e, do outro lado, se você tá no presente, o gerúndio, você tá fazendo, ele já passou, ele já é passado, tudo isso que eu falei já é passado, e não só no tempo gramatical que eu elaborei, persuasivamente, a minha frase, mas porque se você faz uma coisa, ela imediatamente passa, se torna passado.
– Gostei da ideia. Não tinha pensado dessa forma até agora. Mas o meu ponto de vista é divergente. Eu entendo esse teu pensamento, concordo aliás, mas acho que você exclui a complexidade que é viver o presente. Porque viver o presente é uma complexidade. E eu te explico. Pra se viver o presente é toda uma questão de sensibilidade e concentração. Sensibilidade, porque você precisa estar aberto ao que está acontecendo; concentração, no mesmo trilho, porque pra se internalizar o sentido, “sentido” entendido como aquilo que se sente, minimamente que seja, você, obviamente, precisa ter consciência dele e estar pensando nele. É uma questão de exclusividade. Você projeta pro momento, pro instante, a sua atenção. Você tem interesse em viver aquilo, e está disposto.
Os monólogos ganharam vida própria. Cada pensamento é uno, mas isto não exclui a possibilidade de se fundirem. Além do mais, pertencem a uma mesma pessoa: dois corpos não ocupam o mesmo espaço.

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